Trago corcoveando no
peito uma insistência de mudar o que vivo, não reclamo da minha condição, mas
confesso que poderia ser melhor com bem menos... O que chamo de melhor não ter
algo a mais de material, vendável ou talvez sim hoje em dia; talvez já tenha se
tornado isso.
O que digo é que como
me agradaria toda manhã despertar escutando as calhandras, os quero-queros,
ouvir o canto das seriemas ecoando na sanga, pro desayuno sevar um mate na
beira do fogão a lenha mirando a quinta do oitão das casas e lá enxergar os
periquitos furando os frutos para extrair dos mesmos o que há de melhor, avistar
de longe a minha parceira cabu’s negros ir ao paiol e encher o embornal de
milho para assim chamá-la pra mais um dia de lida, ter sempre no costado uns
dois ou três ovelheiros mais que parceiros e buenos pra tirar aquela zebua do
mato e trazer as vacas leiteiras pra mangueira no fim da tarde.
Depois de encilhar,
dar uma recorrida nas pequenas 20 e poucas hectares que poderia chamar de
minhas e/ou ajudar o vizinho capataz da fazenda grande lindeira a recorrer o
potreiro dos fundos, volta e meia juntar as ovelhas que se tem pra consumo pra
curar alguma bicheira, e separar um capão dos gordos pra sangra no fim de
semana, ficar mais que faceira ao ser convidada pra meter uns pialo de toda
trança na próxima marcação.
Pois bueno, o que
mais vemos é pessoas que nasceram e se criaram deste modo vindo morrer em
quartos pobres de vilas, eu, que nasci na vila tentarei começar do fim,
estudando e sucessivamente trabalhando muito, para que por fim, como sempre foi
do meu agrado, na tardezinha enquanto eu atiçar meus fiéis parceiros pra
trazerem as vacas pra mangueira, ficar escutando o ronco simples de um mate na
sombra grande de um paraíso ao lado daquele que assim como eu, um dia pensou
neste futuro e que o destino fará questão de nos unir.
Espero que o Patrão
lá de cima não ache muito este meu pedido e um dia me consceda este luxo de ser
simples.